Mediunidade e Médium: Aspectos Doutrinários e Científicos
A mediunidade é uma faculdade natural da alma, presente em graus variados em toda a humanidade. No Espiritismo, ela é vista como instrumento de comunicação entre os planos espiritual e material, mas exige preparo moral, estudo e vigilância constante. O médium não é alguém privilegiado, mas um espírito que assume responsabilidades importantes no plano espiritual.
Fundamentos na Codificação de Allan Kardec
No Evangelho Segundo o Espiritismo (capítulo 24, itens 10 e 12), Kardec destaca que dons espirituais devem ser dedicados ao bem do próximo, evitando vaidades. Tudo que se adquire deve ser usado para servir.
No Livro dos Médiuns, cap. 14, item 159, ele define médium como toda pessoa que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos. No cap. 22, item 236, alerta que a mediunidade sem preparo ético e estudo pode atrair obsessores e gerar efeitos contrários ao bem.
A mediunidade é faculdade natural da alma humana e não um privilégio exclusivo. Embora o termo costume se aplicar a quem manifesta a mediunidade de forma ostensiva e habitual, Kardec esclarece que muitos indivíduos possuem percepções sutis, como intuições e pressentimentos, sem saber que são médiuns. Ele enfatiza que a mediunidade não é sinal de elevação moral, mas uma oportunidade de serviço e progresso espiritual, devendo ser exercida com humildade e responsabilidade.
A Perspectiva de Emmanuel e Chico Xavier
Em O Consolador (questão 382), Emmanuel afirma que mediunidade é semelhante a inteligência: um dom que se deve cultivar com sabedoria e amor. Sozinha, é instrumento cego; com Cristo, torna-se canal de luz.
O Dicionário da Alma, organizado por Chico Xavier, define mediunidade como instrumento da alma que, orientado pelo Evangelho, ilumina aqueles em sofrimento, com clareza e consolo.
Educação e Responsabilidade: a Visão de Martins Peralva
No capítulo 29 de Estudando a Mediunidade, Martins Peralva enfatiza que o médium tem o dever de promover sua reforma íntima e buscar o autoconhecimento. Vários tipos de mediunidade são descritos, mas o fator comum é a necessidade de vigilância mental, pois todo desvio moral pode gerar sérios desequilíbrios espirituais.
Peralva reforça que o centro espírita é o ambiente mais adequado para o cultivo da mediunidade, pois permite o estudo progressivo, a troca fraterna e a prática consciente.
Exemplos da Literatura Espírita
Em André Luiz (na coletânea de livros psicografados por Chico Xavier), observam-se médiuns que, ao se dedicarem ao estudo e à disciplina moral, se tornam instrumentos de cura espiritual. Nas reuniões mediúnicas, mensagens de consolo e orientação são oferecidas com clareza, protegendo contra mistificações.
O próprio Emmanuel, em Há Dois Mil Anos, demonstra que a mediunidade evolui com a elevação moral do sujeito, consolidando sua personalidade espiritual e conectando-o à missão divina.
Estudos Científicos sobre Mediunidade
Pesquisas por Alexander Moreira-Almeida (UFMG) mostram que médiuns psicógrafos, durante o transe, apresentam padrões cerebrais de dissociação conscientes, sem indícios de patologia. Publicações em periódicos como Journal of Nervous and Mental Disease e Revista de Psiquiatria Clínica confirmam que a mediunidade bem orientada é funcional e saudável.
Esses estudos identificam ativações específicas, como diminuição de atividade no córtex pré-frontal, sugerindo que o médium se coloca em sintonia profunda com Espíritos comunicantes, sem perder coerência narrativa — fenômeno que ainda necessita de explicações mais amplas pela ciência.
Desafios e Cuidados na Prática Mediúnica
A falta de preparo pode gerar efeitos como desorientação, fadiga mental e emocional, abertura a influências espirituais inferiores e até turbulências psíquicas. Por isso, Kardec e os espíritos superiores recomendam o estudo dos fundamentos doutrinários, a oração diária e o convivência em centros espíritas sérios.
Perguntas como "quem sou eu?" e "por que consagro essa vida à mediunidade?" devem ser refletidas constantemente pelo médium. A prática sem reflexão consciente pode levar ao caos interior.
O Papel Social do Médium
Quando atuante com clareza, estudos e amor, o médium torna-se importante agente de transformação social. Ele pode oferecer conforto a pessoas enlutadas, orientação a espíritos desencarnados e respostas a corações aflitos, sem criar vínculos de dependência.
Emmanuel ilustra que um médium consciente é como o sal que dá sabor à sociedade, sem se destacar com ostentação. É presença discreta, mas de grande impacto.
Conclusão
A mediunidade, segundo o Espiritismo, é uma faculdade natural da alma humana, mas seu exercício consciente requer não apenas estudo doutrinário, como também vigilância moral e responsabilidade social. Longe de ser mero fenômeno religioso ou sobrenatural, a mediunidade vem despertando o interesse da ciência moderna. Pesquisas lideradas por Alexander Moreira-Almeida, Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da UFJF, utilizando técnicas de neuroimagem funcional, demonstraram que médiuns psicógrafos apresentam padrões cerebrais específicos durante o transe mediúnico, compatíveis com estados alterados de consciência saudáveis, sem associação com distúrbios mentais. Tais resultados indicam que a prática mediúnica, quando equilibrada e voluntária, não representa patologia, mas um fenômeno psíquico complexo e legítimo.
Estudos complementares, publicados na Revista de Estudos da Religião (PUC-SP), analisam a mediunidade como expressão cultural e psicológica, ressaltando que seu desenvolvimento saudável depende do contexto ético e social em que o médium está inserido. Além disso, iniciativas como o portal e os estudos promovidos pela Federação Espírita Brasileira (FEB) contribuem para difundir conhecimento sério sobre o fenômeno mediúnico, unindo o rigor científico à ética espiritual.
Dessa forma, a mediunidade deixa de ser vista apenas como uma prática religiosa e passa a ser compreendida como uma ponte legítima entre o mundo espiritual e o físico, acessível ao estudo e à verificação. O médium, consciente de sua missão, deve cultivar o autoconhecimento, a humildade e a dedicação ao bem coletivo. Estudo, disciplina e caridade são os pilares que sustentam uma mediunidade equilibrada e segura. Assim, ao integrar ciência e espiritualidade, o Espiritismo reafirma seu compromisso com o esclarecimento e a transformação moral da humanidade, mostrando que a mediunidade, quando iluminada pelo Evangelho de Jesus, transforma-se em instrumento de consolo e elevação espiritual.
📚 Referências Bibliográficas
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KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Cap. 14, item 159; Cap. 22, item 236. FEB.
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KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 24, itens 10 e 12. FEB.
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XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. Questão 382. FEB.
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XAVIER, Francisco Cândido. Dicionário da Alma. Diversos Espíritos. Verbete: Mediunidade. GEEM.
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PERALVA, Martins. Estudando a Mediunidade. Capítulo 29. FEB.
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MOREIRA-ALMEIDA, A. et al. “Functional neuroimaging of mediumship.” Journal of Nervous and Mental Disease, v. 196, n. 9, 2008.
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MOREIRA-ALMEIDA, A.; LUKOFF, D.; LUCCHESE, F. "Spirituality and Mental Health in Brazil." Religions, 2022.
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ZANGARI, W.; MACHADO, F. R. “Estudos empíricos da mediunidade no Brasil.” Revista de Estudos da Religião, PUC-SP, 2004.
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