Precursores da Doutrina Cristã

 


A ciência e a religião são alavancadas pela inteligência humana: a ciência revela as leis materiais, e a religião, as leis morais. O aparente conflito entre elas resulta de falhas de observação e de exclusivismo de ambos. Por séculos, ciência e religião distanciaram-se, com a religião representando o saber divino e a ciência, o saber terreno, embora possam coexistir e se harmonizar na busca pela verdade.

Com a queda do Império Romano, o Cristianismo se expande e busca aliar fé e razão, como exemplificado por Santo Agostinho, que conciliou o Cristianismo com a filosofia de Platão na Idade Média. No século XVIII, o Iluminismo valoriza a razão humana, substituindo explicações religiosas por fundamentos na lei natural e na racionalidade. No século XIX, o Espiritismo surge unindo fé e razão, concretizando a integração entre religião e ciência.

Ciência e religião, até então, divergiam por seus pontos de vista exclusivos. A união entre ambos é possível por meio do conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo material, leis imutáveis, assim como as que governam os astros e a vida.

O Espiritismo chegou em momento oportuno, unindo ciência e religião ao fundamentar o ideal religioso em bases científicas. Assim como uma religião não pode ignorar os fatos comprovados pela ciência, esta também não pode desconsiderar a realidade espiritual. É chegada a hora da ciência superar o materialismo e da religião reconhecer as leis naturais, permitindo que ambos se apoiem mutuamente e avancem.

Aproxima-se uma nova era para a humanidade, marcada por uma revolução moral que terá origem na Civilização do Espírito no terceiro milênio. A ciência será guiada por interesses morais, enquanto a religião se fortalecerá com base na fenomenologia científica e na razão filosófica, unindo progresso intelectual e espiritual.

Os princípios dessa revolução moral remontam à Antiguidade Clássica, quando Sócrates e Platão estabeleceram os fundamentos que sustentaram a transformação espiritual da humanidade. Suas ideias serviram de guia para a construção do Reino de Deus entre os homens, promovendo valores éticos e universais.

Allan Kardec explica, em O Evangelho Segundo o Espiritismo , que grandes ideias não surgem de forma abrupta, mas gradualmente, com a contribuição de precursores que preparam o terreno para sua facilidade. As ideias cristãs, por exemplo, não foram introduzidas de forma repentina por Jesus; elas já eram pressentidas antes de séculos. Sócrates e Platão desempenharam papéis fundamentais nesse processo, antecipando conceitos morais e espirituais que ressoariam com os ensinamentos de Cristo.

Sócrates, com seu método de questionamento e busca pela verdade interior, e Platão, com sua visão sobre o mundo das ideias e a imortalidade da alma, estabeleceram fundamentos que influenciaram diretamente a ética e a espiritualidade ocidental. Esses filósofos plantaram as sementes do que seria o Reino de Deus na Terra, promovendo valores como a virtude, a justiça e o amor ao próximo.

 Jesus Cristo e Sócrates pediu a comentários à morte por desafiar as opiniões e os valores tradicionais de sua época. Ambos questionaram as estruturas condicionais, propondo uma moralidade baseada na virtude, na verdade e no aperfeiçoamento interior, em contraste com os formalismos e valores superficiais do mundo.

Sócrates foi acusado de corromper a juventude e de introduzir novas propostas ao incentivo o pensamento crítico e a busca pelo autoconhecimento, desafiando as opiniões e os costumes atenienses. De forma semelhante, Jesus foi acusado pelos fariseus de subverter o povo com ensinamentos que confrontavam as práticas religiosas da época, promovendo o amor, o perdão e a espiritualidade verdadeira.

Ambos, com suas vidas e mortes, deixaram legados que transcendem o tempo, convidando a humanidade a refletir sobre a importância da virtude, do questionamento das aparências e da busca pelo que é eterno e essencial.

Platão é, sem dúvida, uma das figuras mais influentes da filosofia, destacando-se tanto pela sua primazia temporal quanto pela profundidade e relevância de seus ensinamentos. Ele é um dos primeiros a propor que o verdadeiro conhecimento não está no mundo material, mas em uma realidade superior e imaterial. Através de suas ideias sobre as Ideias ou Formas, Platão sugere que a verdadeira essência das coisas só pode ser alcançada em uma esfera além do mundo físico, um reino eterno e imutável.

Platão ensina que a verdadeira felicidade não está nos prazeres mundanos, como honras, riquezas ou satisfações físicas, mas na busca pela sabedoria, pela virtude e pelo autoconhecimento. A renúncia aos bem.

Sua filosofia promove uma visão do mundo em que os ideais espirituais e intelectuais são mais importantes do que as conquistas temporais, e essa concepção transcendente da vida foi um marco no pensamento ocidental, influenciando profundamente a moralidade, a ética e a busca por um propósito maior.

Sócrates e Platão, pensadores fundamentais da Antiguidade, anteciparam muitos princípios que mais tarde foram desenvolvidos pelo Cristianismo e pelo Espiritismo. Suas ideias filosóficas abordam conceitos como a pré-existência da alma, a pluralidade das existências, a comunicação entre o mundo espiritual e material, e o amor como lei universal. Eis como esses temas são tratados em suas obras:

1. Pré-existência da alma

Platão, no diálogo Fédon , argumenta que a alma existia antes do corpo e que sua união com este é temporário:

  • “A alma é mais semelhante ao que é imortal, divino, e sempre igual a si mesmo, enquanto o corpo é mais semelhante ao que é mortal e sujeito à mudança” ( Fédon 79d).
  • “Conhecer é gravar. Quando vemos algo e somos levados a pensar em outra coisa, é porque já temos ciência dessa ideia antes” ( Mênon 81c-d).
    Essas reflexões coincidem com o princípio espírita de que a alma tem uma existência anterior e carrega a lembrança inconsciente de sua origem divina.

2. Pluralidade das existências

Platão, ainda no Fédon , descreve o retorno das almas a novas vidas como uma consequência de sua impureza:

  • “A alma que se encontra impura e tem ainda apego ao corpo vagueia neste mundo até que seja novamente atraída a um corpo” ( Fédon 81e).
  • “As almas têm que passar por diversas existências até se tornarem puras e voltarem ao mundo ideal” ( República 617d).
    Essa concepção está em harmonia com a reencarnação, onde as almas evoluem através de sucessivas existências.

3. Comunicação entre o mundo espiritual e material

Sócrates referiu-se frequentemente ao seu daimonion , um Espírito ou voz interior que o guiava:

  • “Este sinal divino que em mim há não me impele nunca a agir, mas sempre me detém quando estou para fazer algo errado” ( Apologia de Sócrates 31d).
    Platão, no Banquete , reforça a ideia dos demônios (Espíritos) como mediadores:
  • “Tudo o que é espiritual não está no meio entre o divino e o mortal. (...) Deus não se comunica diretamente com o homem, mas por meio desses seres espirituais” ( Baquete 202e).
    Essa visão é compatível com o Espiritismo, que ensina que a comunicação divina ocorre por meio dos Espíritos elevados.

4. O amor como lei universal

No Banquete , Platão explora o conceito do amor como força transcendental:

  • “O amor é o desejo de alcançar o que nos falta, aquilo que é belo e eterno” ( Banquete 206b).
  • “Amar é ascender a uma visão do bem universal, deixando de lado as paixões inferiores” ( Banquete 210a-d).
    Essa concepção de amor como uma força que eleva o ser humano ao divino é paralelamente ao ensinamento cristão e espírita de que o amor é a lei suprema que governa a criação.

Essas instruções mostram que Sócrates e Platão, movidos por suas intuições e filosofias, anteciparam grandes verdades que seriam aprofundadas pelo Cristianismo e mais tarde pelo Espiritismo. Suas ideias revelam que conceitos fundamentais da espiritualidade não surgiram de forma abrupta, mas foram desvendados gradativamente pelos Espíritos superiores, de acordo com a capacidade de compreensão da Humanidade.

( Bibliografia do estudo: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução, capítulo IV e capítulo I, itens 8, 9 e 10. Wikipédia)

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