Das Sensações e Percepções dos Espíritos


As sensações e percepções dos Espíritos, embora diferentes das que experimentamos no corpo físico, são reais e intensas. Mesmo após a morte do corpo material, o Espírito continua a sentir, perceber, desejar e pensar — mas essas faculdades se manifestam por meio de sua estrutura espiritual, o perispírito, que é um envoltório fluídico sutil, moldado pela natureza do próprio Espírito.

Ao deixar o corpo físico, o Espírito não perde sua individualidade nem suas capacidades sensoriais. Ao contrário, essas capacidades tornam-se mais refinadas e penetrantes. O Espírito percebe não apenas o que está ao seu redor, mas também os sentimentos e intenções dos outros Espíritos e, muitas vezes, dos encarnados. Ele vê, ouve e sente, mas por meio de uma percepção direta, sem a limitação dos órgãos físicos. Essa forma de percepção é íntima e imediata, livre dos filtros e deformações do corpo carnal.

As sensações do Espírito são proporcionais ao seu grau de adiantamento moral e intelectual. Espíritos elevados percebem de maneira mais clara, ampla e serena; suas sensações estão mais próximas do sentimento puro e da compreensão profunda das leis divinas. Já os Espíritos inferiores, ainda presos a paixões terrenas, experimentam sensações mais densas e dolorosas, muitas vezes como reflexo de seus próprios pensamentos e recordações.

Uma característica marcante dessas sensações é que, embora não envolvam o corpo físico, são vividas com intensidade. Por exemplo, o sofrimento moral de um Espírito culpado pode ser mais agudo do que qualquer dor física. Ele sente vergonha, arrependimento, solidão ou angústia de forma profunda e vívida. Essas dores não vêm de um castigo externo, mas do próprio estado íntimo do Espírito, que carrega em si a consequência de seus atos e pensamentos.

Do mesmo modo, Espíritos felizes, puros e conscientes de suas responsabilidades desfrutam de sensações sublimes, de paz, de amor, de harmonia com a criação. O bem-estar que experimentam é fruto da sintonia com as leis divinas e da ausência de culpa ou apego ao material.

As percepções espirituais não se limitam ao mundo dos Espíritos. Eles também podem se conectar com o plano físico, influenciar os encarnados e perceber ambientes, pensamentos e sentimentos humanos. A afinidade vibratória é o que estabelece essa comunicação: Espíritos atraem e se aproximam daqueles que lhes são semelhantes em pensamentos, sentimentos e intenções.

Importante destacar que os Espíritos não possuem as sensações orgânicas propriamente ditas — eles não sentem calor, frio ou dor física como nós. Porém, pela força do hábito e da ligação mental com a vida corpórea, Espíritos apegados à matéria podem experimentar impressões semelhantes às sensações físicas, como se ainda estivessem encarnados. Esses efeitos são frutos da sugestão mental e do estado de perturbação que podem durar algum tempo após o desencarne.

Assim, as sensações e percepções dos Espíritos não cessam com a morte, mas se transformam e se aprofundam. A vida espiritual não é uma existência vaga ou sem forma — ela é plena de atividade, de consciência, de experiências sutis ou intensas, conforme a natureza íntima de cada Espírito. Saber disso convida à reflexão sobre a importância da elevação moral e do desapego aos prazeres transitórios, pois a alma leva consigo tudo aquilo que é verdadeiramente seu: suas virtudes, suas imperfeições, suas lembranças e seus sentimentos.

Compreender a realidade sensível dos Espíritos nos ajuda a viver melhor aqui e agora, despertando a consciência para o fato de que a vida continua e que nossas escolhas presentes ecoam para além da matéria, moldando nosso futuro espiritual.

Fonte de Pesquisa: Revista Espírita, Ano 1, nº 12, Dez. 1858 - Sensações dos Espíritos - Ed. 1, FEB 2014; O Livro dos Espíritos, questão 257; Livro O que é o Espiritismo, Allan Kardec, capítulo 2, item 17

Comentários

Instagram

Postagens mais visitadas