Penas e gozos futuros
A Doutrina Espírita oferece uma compreensão profunda e racional sobre as penas e os gozos futuros, desvelando o sentido moral da existência e a continuidade da vida além da morte. Ao contrário das concepções tradicionais que representam o céu e o inferno como lugares físicos, fixos e eternos, o Espiritismo ensina que o destino do Espírito após a morte é consequência direta do estado moral que ele mesmo construiu ao longo de sua existência.
As penas e os gozos não são, portanto, recompensas ou castigos arbitrários impostos por uma divindade punitiva ou parcial. Eles são estados de consciência. O Espírito carrega consigo, ao deixar a vida corporal, as lembranças, os sentimentos, os méritos e as culpas que acumulou. Assim, experimenta a felicidade ou o sofrimento de acordo com a sua própria condição íntima.
O Espírito culpado, que ainda não despertou para o bem, sente a vergonha, o arrependimento, o remorso e a angústia causados por seus erros. Ele sofre por aquilo que fez ou deixou de fazer, e esse sofrimento é proporcional ao grau de sua responsabilidade e lucidez moral. As chamadas "penas futuras" não são penas externas, mas efeitos naturais de leis morais imutáveis. Um Espírito endurecido pelo egoísmo ou pelo ódio pode, por exemplo, demorar a perceber sua condição, vivendo por tempo indefinido em estados de perturbação, isolamento ou sofrimento interior.
Por outro lado, os "gozos futuros" são igualmente frutos do esforço moral, da prática do bem, do desapego e da consciência tranquila. Espíritos que viveram com retidão, caridade e humildade desfrutam de uma paz profunda, de um sentimento de elevação e da alegria de verem cumprido, mesmo que em parte, o propósito de sua existência. O prazer do Espírito puro não está em recompensas materiais, mas na harmonia com as leis divinas, no amor ao próximo e na liberdade que advém do desprendimento da matéria.
O progresso espiritual é contínuo. Nenhuma falta é eterna, e nenhum sofrimento é definitivo. A justiça divina se manifesta pela possibilidade de reparação e regeneração. O arrependimento é o primeiro passo; a expiação, o segundo; e a reparação, o terceiro — o que permite ao Espírito ascender moralmente e reencontrar a paz. Esse é um ponto central da filosofia espírita: ninguém está condenado irremediavelmente, pois a misericórdia divina está sempre acessível àquele que deseja verdadeiramente evoluir.
Além disso, o Espiritismo mostra que as ideias de céu e inferno devem ser compreendidas em sentido moral. O "céu" é o estado de plenitude, lucidez e paz alcançado pelos Espíritos que venceram suas más inclinações e desenvolveram as virtudes. O "inferno", por sua vez, é o tormento íntimo, a prisão moral que o Espírito impõe a si mesmo pelas consequências de suas ações. Ambos os estados existem não em lugares geográficos, mas na consciência de cada ser.
Essa visão promove um sentido de responsabilidade pessoal e de justiça equilibrada, estimulando a prática do bem não pelo medo de castigos, mas pela compreensão das leis naturais que regem a vida espiritual. A verdadeira felicidade, segundo os ensinamentos espíritas, está em viver de acordo com a consciência, cultivar as virtudes e buscar a elevação moral.
Concluindo, as penas e gozos futuros são expressões da justiça e da bondade divinas, que respeitam o livre-arbítrio do Espírito e lhe concedem, indefinidamente, as oportunidades necessárias para aprender, reparar e evoluir. A cada um segundo suas obras — essa é a lei soberana que rege o destino dos seres e que nos convida, com esperança e responsabilidade, a construir desde já o nosso próprio porvir.
Fonte de Pesquisa: Livro O que é o Espiritismo de Allan Kardec, Cap. 11, item Terceiro Diálogo - O Padre; A Gênese de Allan Kardec, Cap. 1, itens 31, 32 e 37; O Céu e o Inferno, Cap. 7, Item Princípios da Doutrina Espírita sobre as Penas Futuras; O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 2, item 3; O Livro dos Espíritos, questões 959, 967, 970 e comentário de Kardec às questões 959, 962, 973.
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