Origem e Natureza do Espírito segundo a Doutrina Espírita
A Doutrina Espírita apresenta uma visão profunda e racional sobre a origem e natureza do Espírito, explicando sua essência, trajetória evolutiva e papel no universo. Fundamentada em observações e revelações dos Espíritos superiores, a codificação kardequiana, enriquecida por obras complementares como Evolução Em Dois Mundos e Evolução Anímica, oferece subsídios consistentes para o entendimento da constituição espiritual do ser humano.
O Espírito e o Princípio Inteligente
Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos (questões 23 a 27), define o Espírito como o ser inteligente da Criação, distinto da matéria, criado simples e ignorante, mas com potencial infinito de progresso. Segundo os Espíritos, o princípio inteligente surge como elemento fundamental do universo, coexistindo com a matéria e Deus. Na questão 24, lemos que esse princípio, embora ainda não seja Espírito em sua forma plena, está presente em todos os seres vivos, como uma centelha divina em processo de amadurecimento.
Já na questão 79, esclarece-se que o Espírito não pertence ao mesmo plano da matéria, sendo uma individualidade consciente que evolui progressivamente por meio de experiências na matéria, encarnando e desencarnando até atingir sua perfeição moral e intelectual.
A Natureza do Espírito
Segundo A Gênese (cap. 11, it. 10-12), o Espírito é uma entidade imaterial, dotada de inteligência, vontade e livre-arbítrio. Embora invisível ao olhar humano, sua existência se manifesta através da ação, dos pensamentos, da consciência e, nos fenômenos mediúnicos, por aparições ou comunicações. No item 23 do mesmo capítulo, Kardec afirma que o Espírito não é um ser abstrato, mas um ser real, envolvido por um corpo fluídico – o perispírito, que lhe permite agir sobre o mundo material.
A questão 88 de O Livro dos Espíritos aprofunda esse conceito ao dizer que o Espírito, mesmo sendo imaterial, é envolvido por um invólucro semimaterial, que lhe dá forma nas manifestações, variando conforme o grau de evolução e o ambiente espiritual em que se encontra.
Os Primeiros Passos da Alma: A Alma Animal
Gabriel Delanne, no capítulo 2 de Evolução Anímica, apresenta importantes considerações sobre a alma dos animais. Segundo ele, os animais possuem um princípio inteligente em desenvolvimento, indicando que o Espírito humano não surge do nada, mas percorre uma longa trajetória evolutiva. A alma animal, dotada de instintos, emoções e certo grau de inteligência, representa o estágio inicial do Espírito. Assim, o Espírito humano atual já foi, no passado, um princípio inteligente individualizado em formas inferiores de vida.
Esse pensamento encontra eco em Kardec (questões 607 e 607A), onde os Espíritos afirmam que o Espírito humano evolui do princípio inteligente dos animais, através de inúmeras existências. Essa transição não se dá automaticamente, mas por uma lenta maturação, sob a supervisão das leis divinas.
A Formação do Espírito Individualizado
No capítulo 3 de Evolução em Dois Mundos, André Luiz, por meio da psicografia de Chico Xavier, apresenta uma visão científica e espiritualizada da origem do Espírito humano. No item “Primórdios da Vida”, o autor espiritual descreve como, a partir do princípio espiritual unido à matéria nos reinos primitivos, a consciência vai sendo lentamente despertada. O Espírito ainda não está plenamente formado, mas já ensaia os primeiros rudimentos da vontade e da percepção.
Nos itens “Dos Antrópodos aos Dromatérios e Anfitérios” e “Friaxas Inaugurais da Razão”, o autor narra a marcha do Espírito através de formas intermediárias, entre os animais superiores e o homem primitivo. Nessas fases, ocorrem os primeiros lampejos da razão, diferenciando o ser humano dos demais reinos naturais. André Luiz reforça que esse processo é assistido por Espíritos superiores e guiado pelas Leis Divinas.
No item “Elos Desconhecidos da Evolução”, aborda-se a transição entre o princípio espiritual e o Espírito individualizado como um dos maiores mistérios da Criação, onde a ciência materialista ainda encontra lacunas, mas o Espiritismo oferece explicações lógicas e consoladoras.
Espírito: Um Ser em Constante Transformação
A Doutrina Espírita é clara ao afirmar que o Espírito é imortal, mas não eterno no sentido absoluto – pois teve um começo. Esse começo, embora ainda envolto em mistério (questões 81, 82 e 92 de O Livro dos Espíritos), está vinculado à lei de progresso, segundo a qual todo ser criado por Deus caminha inevitavelmente para a perfeição.
No capítulo 14 de A Gênese, item 10, Kardec reafirma que o Espírito é criado para atingir a perfeição e que os sofrimentos da existência corporal são meios de purificação. A individualidade espiritual é preservada em toda a jornada, mesmo após milhões de anos e múltiplas encarnações.
Paralelos Científicos e Filosóficos
Autores como Léon Denis em O Problema do Ser, do Destino e da Dor reforçam a ideia de um princípio inteligente em ascensão contínua, harmonizando a revelação espírita com a evolução biológica. A visão de Denis dialoga com a filosofia espiritualista e com avanços da psicologia transpessoal e da neurociência, que começam a admitir a existência de uma consciência não-local.
Pesquisadores como Ian Stevenson e Jim Tucker, através de estudos sobre reencarnação, e Raymond Moody, com investigações sobre experiências de quase-morte, vêm reforçando a ideia da sobrevivência da alma e sua trajetória evolutiva.
Considerações Finais
A origem e natureza do Espírito são questões fundamentais que despertam o pensamento filosófico, científico e religioso. A Doutrina Espírita propõe uma visão lógica, moral e progressiva do ser espiritual, conciliando razão e fé. O Espírito, criado simples e ignorante, avança por múltiplas experiências até atingir a plenitude de suas potências, tornando-se colaborador consciente de Deus na obra da Criação.
Esse conhecimento não apenas elucida nossa origem e destino, mas também fundamenta a responsabilidade moral do ser humano em seu aperfeiçoamento pessoal e coletivo. Como ensina Kardec, “nascer, viver, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”.
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Links Externos Relevantes
Referências Bibliográficas
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
- KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
- DELANNE, Gabriel. Evolução Anímica. IDE.
- XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz. FEB.
- DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB.
- MOODY, Raymond. Vida Após a Vida. Ed. Record.
- STEVENSON, Ian. Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação. Ed. Lachâtre.
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