Divórcio


 No capítulo XXII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado "Não Separeis o que Deus Juntou", Allan Kardec analisa a indissolubilidade do casamento e o divórcio à luz dos ensinamentos de Jesus e da Doutrina Espírita. Nos itens 1 a 5, ele esclarece que o casamento é uma instituição humana regulada pelas leis civis e que sua dissolução, o divórcio, não é contrário às leis divinas, mas sim uma consequência do progresso da sociedade.

A frase de Jesus, "O que Deus uniu, o homem não deve separar" (Mateus 19:6), é frequentemente interpretada como uma condenação ao divórcio. No entanto, Kardec explica que essa passagem precisa ser compreendida dentro de um contexto mais amplo.

Primeiramente, é necessário diferenciar os casamentos realizados por afinidade verdadeira daqueles que ocorrem por convenções sociais, interesses ou imposições culturais. Deus une verdadeiramente apenas aqueles cujos Espíritos estão ligados por laços de amor e afinidade. Já as uniões baseadas apenas em compromissos sociais ou desejos passageiros são criações humanas e podem, naturalmente, ser desfeitas.

Assim, o casamento, enquanto contrato civil, é uma instituição necessária para a organização da sociedade, mas não pode ser considerado indissolúvel quando deixa de cumprir sua função de promover a harmonia entre os cônjuges.

Nos itens 2 a 4, Kardec ressalta que a indissolubilidade absoluta do casamento não está de acordo com a lei natural. Isso porque muitas uniões se tornam fontes de sofrimento, seja pela falta de afinidade entre os cônjuges, seja por abusos, desentendimentos ou até mesmo por transformações individuais que tornam a vida em comum insustentável.

O divórcio, portanto, é uma medida que visa corrigir essas situações, permitindo que os indivíduos reconstruam suas vidas de forma mais equilibrada. Ele não viola a lei divina, pois Deus deseja a felicidade e o progresso dos seres humanos.

Além disso, na questão espiritual, o divórcio não rompe os verdadeiros laços afetivos. Espíritos afins, unidos por amor verdadeiro, não são separados por um simples documento legal. Por outro lado, aqueles que não possuem sintonia não podem ser mantidos forçadamente unidos sem prejuízo para ambos.

A Visão Espírita sobre o Divórcio

No item 5, Kardec enfatiza que a Doutrina Espírita não incentiva o divórcio de forma leviana, mas o reconhece como uma necessidade em certas circunstâncias. O casamento deve ser baseado no respeito, no amor e na compreensão mútua. Quando esses princípios desaparecem, insistir na manutenção de uma relação infeliz pode gerar sofrimento e atrasar o progresso dos envolvidos.

É importante lembrar que o Espiritismo valoriza a responsabilidade nas escolhas afetivas. O divórcio não deve ser um caminho para a fuga de dificuldades passageiras, mas sim uma alternativa quando a união se torna prejudicial para ambas as partes.

A indissolubilidade do casamento não pode ser vista como um dogma inflexível, pois cada caso deve ser analisado conforme as circunstâncias. O divórcio, quando realizado com respeito e consciência, é uma ferramenta para que os indivíduos possam recomeçar e buscar relações mais harmoniosas.

Assim, o Espiritismo ensina que o verdadeiro casamento não é aquele imposto por leis humanas, mas aquele que une os Espíritos por laços sinceros de amor e afinidade. Quando esses laços não existem, a separação pode ser um ato de justiça e de progresso, permitindo que cada um siga seu caminho em busca da felicidade

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